quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Coração de Pedra (III)

Parte III - O desfecho final




           Pouco depois das dez, no dia seguinte, Sofia foi acordada com seu telefone tocando. A música a fez sorrir (“It´’s always better when we’re together...”), atendeu ainda sonolenta “A-alô?”
            - Te acordei Sofi? – Era Luiz
            - Sim! – ela respondeu rispidamente.
            - Então se troca, porque daqui a pouco estarei chegando aí com o pão pra gente tomar café da manhã e bater papo.
            - Tá... Tchau!
            Assim que desligou Sofia foi se trocar resmungando... “Aposto que agora ele quer contar como foi a noite de sábado com a moça bonita do segundo ano... E eu como boa amiga terei que ouvir tudo!”
            Já começou a se preparar psicologicamente, pois teria que fazer um esforço sobre-humano para não demonstrar sua indignação.
            Vestiu um jeans, camiseta e um par de chinelos e foi para cozinha organizar a mesa e tudo o mais. Se ela gostasse realmente dele teria que desejar sua felicidade (ainda que fosse com outra pessoa), portanto lutava contra seus próprios pensamentos que desejavam que aquela mocréia fosse atropelada!
            Seu devaneio foi interrompido pelo som do interfone. “Pode subir” disse em tom amigável já liberando o portão do prédio. Abriu a porta e lá estava ele com um saco de pães que pareciam estar quentinhos. “Como ele consegue ser tão bonito mesmo uma hora dessas da manhã?!? CONCENTRE-SE Sofia! Ele não passa daquele seu amigo que tanto já te sacaneou!”. Assim que voltou desta luta interna convidou-o para entrar.
            O papo entre os dois fluiu como sempre acontecera. Falaram sobre o clima, sobre a semana de testes que já acabara, sobre as eleições, sobre a vitória do time para o qual torciam (acreditem, eles torciam pelo mesmo time)... conversaram sobre tudo menos a moça que ele havia beijado. Por um lado Sofia estava satisfeita em não ouvir o nome da mocréia (este apelido combinava melhor com ela), mas por outro lado sua curiosidade feminina a estava corroendo por dentro! Arriscou:
            - E a moça bonita do segundo ano? – Se Sofia usasse o apelido que dera a ela talvez Luiz não soubesse de quem ela estava falando.
            - Então, Sofi. Este é um dos motivos de minha visita... eu precisava falar contigo... e é sério. Sei que seu coração de pedra não entende muito de sentimentos, mas...
            Sofia tossiu engasgada com o gole de leite que acabara de colocar na boca. “Não acredito que ele veio até meu apartamento para me contar que está apaixonado por aquela mocréia!” Sofia não parava de tossir repetidamente, já estava com o rosto avermelhado.
            - Você está bem, Sofi? Quer um pouco d’água? O que posso fazer?? – perguntou Luiz já desesperado batendo nas costas de Sofia e levantando seus braços.
            Ela tinha que se livrar desta situação, era tudo muito recente, não sabia se suportaria ouvir da boca dele que estava apaixonado por outra pessoa... sua covardia estava impelindo-a a agir.
            - Sabe o que é, Luiz, lembrei-me que tinha marcado de fazer um trabalho na casa da Érika e já estou atrasada – disse Sofia já empurrando Luiz porta a fora.
            - Mas nem dá para gente conversar mais um pouco? Você é minha melhor amiga!
            A palavra amiga fez Sofia empurrá-lo com mais força ainda. Passou direto pelo elevador e, aproveitando-se de morar no primeiro andar acompanhou-o até o portão.
            - Sinto muito, Luiz, mas não posso deixar de ir, preciso de nota desta matéria – Sofia estava simplesmente metralhando as palavras, suas mãos tremiam, sua musculatura estava enrijecida. Ela realmente parecia desesperada, tinha perdido o controle de suas emoções e atitudes!
            Já pra fora do portão Luiz virou-se pra Sofia, segurou seus dois ombros apertando-os firmemente, olhou sério em seus olhos e disse em voz alta: “Pára! Já que não quer ouvir... sinta!” Colocou as duas mãos segurando firmemente a nuca de Sofia e suavemente beijou-lhes os lábios. Um beijo doce, macio e carinhoso. As pernas de Sofia amoleceram, aliás toda sua musculatura amoleceu; a tremedeira de repente passou, ela sentia como se estivesse derretendo nas mãos dele. Luiz foi se afastando de sua boca suavemente e Sofia não conteve um gemido de desapontamento “Por que parou?” ela pensou. Luiz sorriu, segurou as duas mãos de Sofia e olhando em seus olhos sussurrou:
            - Perdão, mas eu precisava fazer isso... Precisava provar seu beijo, o que só confirmou o que vim dizer: ficar com a moça do segundo ano só me fez perceber que eu amo você... era você que eu queria beijar, você que eu queria abraçar... e isso já faz um tempo, mas quando você disse que estava apaixonada por outro cara achei que também tinha que tentar amar outra pessoa, e...
            - Era você o cara! – Sofia interrompeu-o abruptamente – Todo esse tempo era você o cara por quem eu estava apaixonada, e...
            Agora foi a vez de Luiz interromper, mas não com palavras, porém com outro beijo, desta vez mais carinhoso e mais demorado.
            E ali ficaram por um bom, tempo curtindo um ao outro, como se de repente tivessem voltado a ser criança e estivessem descobrindo um mundo novo... o mundo do verdadeiro amor.

Um comentário:

  1. Oi, entrei no seu blogue por acaso, achei muito legal mesmo, não queria sair sem comentar, parabéns!
    Aproveito a oportunidade para convidá-la ao meu que é de literatura.
    Um abraço desde Argentina.
    Humberto.

    www.humbertodib.blogspot.com

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