sábado, 9 de outubro de 2010

Coração de Pedra (II)

Parte II - A decepção

           Sofia se arrependera amargamente de não ter contado toda a verdade a Luiz, pois contara somente parte dela (“estou apaixonada”) e agora tudo tinha ficado mais difícil, afinal uma hora ou outra ele iria querer saber “por quem”.
            Sofia andava desatenta nas aulas, tirou algumas notas baixas; no serviço seu rendimento havia caído, derrubava objeto com mais freqüência do que uma criança que está desenvolvendo a coordenação motora, e sua memória... memória?!? O que é isso?? Ela já não tinha mais.
            Mas como se não bastasse tudo piorou naquela noite de sexta-feira em que faltou da aula. Não estava a fim de sair, alugou um bom filme e (como já fizera infinitas vezes) instintivamente ligou para Luiz... e desligou. “O que ele vai pensar?” pensou consigo mesma... “eu o convidando para um filme numa sexta a noite?!! Ele vai perceber” Este convite não seria diferente de muitos outros que Sofia já fizera, mas agora tinha outro peso, pois apesar de não ter confessado a Luiz seu amor por ele, ela havia dado um passo que levara anos: assumira para si mesma!
- Bobagem minha - conclui e ligou novamente.
- Alô? - o coração de Sofia pulou em seu peito. “Oi, Luiz, tudo bom? Está a fim de ver um filme? É de ação, com aquele cara que você curte, o...”
- Não, Sofi, hoje não estou a fim, além do mais vou para faculdade.
Sofia só conseguiu se despedir e desligar. E ele nem deveria ter aulas muito importantes.
Se convencendo que não era nada assistiu sozinha o filme. Horas mais tarde, depois de um copo de leite e já de pijamas ouviu de longe uma canção conhecida, correu e atendeu o celular esbaforida: “Luiz? Aconteceu alguma coisa?”. Afinal já passavam da meio-noite.
- Sabe aquela moça bonita da faculdade... aquela que te falei... então, hoje a beijei!
Sofia só conseguiu dizer “Legal” que mais parecida um gemido de dor que uma palavra. Por instantes achou que haviam roubado seu chão... E então os minutos que se passaram pareciam uma eternidade. Luiz contou detalhadamente tudo o que aconteceu em seu encontro que, por sinal, fora o motivo de não querer ver o filme com Sofia. “Mas você não tinha aula hoje?” – perguntou Sofia tentando esconder o tom de revolta.
- Tinha, mas nem era muito importante.
Sofia não suportou mais três frases e disse que tinha que dormir, desligou logo sem seguida e corre para o quarto, agarrou a primeira coisa ao seu alcance (um urso enorme de pelúcia marrom como seu cabelo) e pulou em sua cama.
Chorou muito até pegar no sono. Na manhã seguinte se levantou e, arrastando o urso com o qual dormira abraçada a noite toda, foi tomar café.
Mil e uma perguntas e teorias passavam por sua cabeça, “Será que ele gosta daquela moça? Ela nem é tão bonita assim. Será que se ele soubesse de tudo teria ficado com ela mesmo assim?” Bom, mas ele não sabia de nada e estava simplesmente contando um novidade para uma amiga... amiga, ela queria ser muito mais que isso.
            Passou o dia se arrastando pra lá e pra cá, apertando o urso contra o peito inconformada com o rumo que tudo aquilo havia tomado. Tudo era tão mais fácil antes, pelo menos seu coração de pedra não doía tanto... Nem viu o dia passar e logo anoiteceu. Colocou o pijama novamente e se deitou, foi então que se deu conta que aquele era o urso que Luiz havia lhe dado ano passado... começou a rir... passara o dia todo com um urso de pelúcia; como aquilo parecia atitude de garotinha acuada! Chegou a até se imaginar uns centímetros mais baixa e alguns anos mais nova. Ainda sorrindo apertou forte Luigi (esse era o nome do urso), virou-se e dormiu.

Ps: Aguardem a Parte III - O desfecho final

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