sexta-feira, 27 de maio de 2011

Olhando na direção errada...


Tive uma adolescência conturbada... Não porque tenha passado necessidades, grandes traumas ou privações, mas é que tudo na adolescência é intenso. Ainda mais quando se é típica nerd reprimida, com poucas habilidades sociais.
                A guerra hormonal que acontece na puberdade é para o adolescente como um microscópio eletrônico, daqueles que permitem visualizar em telas gigantes moléculas minúsculas. Portanto uma espinha no meio da testa no fim de semana é motivo para verdadeiras crises de choro, gritaria e bater de porta... E se esta vier acompanhada de outra espinha interna e vermelha na bochecha, pronto... Aí se ouve frases dignas de novelas mexicanas do tipo: “Eu quero morreeeeeeeeer!” “Por que que eu nasci?!?”.
                A questão não é que eles exageram na hora de contar ou na reação. Eles realmente vêem e sentem tudo com intensidade quadruplicada, e não conseguem evitar. Uma vontade se torna em um desejo ardente, capaz de cegar. Um medo ou um receio se torna em uma fobia sufocante, capaz de fazer adoecer. Um simples obstáculos pode se transformar em uma verdadeira muralha praticamente intransponível aos olhos do adolescente. Eu era assim... (talvez ainda seja um pouco, mas isso é outra história).
                Lembro-me que tive alguns sonhos não realizados. Sonhos que tive medo de perseguir e fracassar, por isso simplesmente amarrei a um bloco de concreto e joguei nas águas agitadas de minha vida juvenil, o sepultei no mar de meu coração. Mas também tive sonhos consumidos por problemas que, aos meus olhos, não tinham solução. Sepultei ambos, o sonho e o obstáculo que o consumia! E essa atitude (talvez ligada com minha ausência de habilidades sociais) me fez sepultar muita coisa com as quais eu não soube lidar. E assim fui evitando tudo aquilo que, na verdade, precisava enfrentar.
                Mas Deus não gosta de casos mal resolvidos... E este ano resolveu colocar meu barco de volta nestas mesmas águas.Tudo era o mesmo, a paisagem, o barco, o calor do sol, a brisa, mas as águas... Não pareciam mais uma corredeira de se praticar rafting, mas sim um lago de águas tranqüilas e cristalinas. Na verdade as circunstâncias continuavam as mesmas, o que havia mudado era o meu coração... Que estava simplesmente em paz.
                Confesso que nos primeiros momentos fiquei ressabiada, olhando atentamente para as águas, pois só eu sabia tudo o que eu havia sepultado ali, e como aquelas águas já haviam sido agitadas e traiçoeiras! Em dado momento percebi um leve borbulhar nas águas próximo ao barco; meu coração gelou. Será que as águas voltariam a se agitar? Mas logo percebi que algo começou a subir à superfície e, então submergiu! Ali estava na minha frente um dos grandes sonhos que eu havia sepultado naquele lugar. Ele continuava tão grande como quando o sepultei, mas desta vez parecia estar mais perto... Ou meus braços que estavam maiores... Mas não importava, pois lá estava ele, cativante, parado na minha frente, então comecei a contemplar a hipótese que desta vez ele poderia ser meu; quando vi logo atrás dele outro burburinho de águas. Então me esforcei para rapidamente me lembrar que monstro (problema) me impedira de realizá-lo, pois me lembrava de tê-lo sepultado ali também. Não precisei pensar por muito tempo, pois em segundos ele saiu e se colocou ao lado do sonho. Mas ele sim parecia tão menor que outrora, tão ressequido... E percebi que aquele era o momento de enfrentá-lo... Olhei fixamente em seus olhos e com toda a fé que pude achar dentro de mim disse “Desta vez não... Você não vai roubar este sonho novamente!” Não precisei fazer mais nada além de crer, e como num passe de mágica ele explodiu se transformando em uma chuva de pétalas e exalando o inebriante cheiro da vitória. Acho que nunca tinha sentido este cheiro tão forte! Sem nem pensar duas vezes estiquei meus abraço e agarrei meu sonho, trazendo para dentro do barco. Naveguei por algum tempo ali só contemplando o sonho que agora poderia ser realizado.
                Não levou muito tempo pra que eu percebesse outro agitar de águas perto da ponta do barco. Nem ao menos tive tempo de pensar no que poderia ser e já pude avistar outro sonho na superfície da água. Puxa... e eu jurava que aquele sonho havia morrido! Mas ele havia sido simplesmente sepultado vivo. Meus olhos se encheram de lágrimas... lágrimas de felicidade, mal podia acreditar que Deus estava me dando este presente. Porém o êxtase não durou muito, porque logo ao lado do sonho submergiu o monstro que outrora o havia me roubado... Monstro este que também não enfrentei... Simplesmente sepultei!
                Diferente do outro que eu havia destruído, este parecia até maior e mais forte que no passado. Tentei encará-lo, ele se posicionou, tentei disfarçar, mas estremeci... Minha fé se abalou... Minhas mãos e meus lábios começaram a tremer, enquanto ele parecia envolver meu sonho em sua névoa. Então não consegui mais segurar, desabei a chorar copiosamente; abaixei a cabeça e nem se quer podia mais olhar naquela direção. Toda a dor que eu havia sepultado estava de volta e sentia como se nunca tivesse ido embora. Parecia tortura ver meu sonho tão perto e tão inacessível ao mesmo tempo... Cheguei a questionar, por que Deus permitiria tamanho sadismo em minha vida... E depois de muito chorar abri meus olhos mirados para o fundo do barco e percebi que não havia remos... “Espere um momento... eu nem se quer remei até aqui”... Embora o barco se movesse suavemente pelas águas havia a possibilidade de haver um motor, mas eu nem se quer havia tocado no “leme” de nenhum motor. Então me virei para trás olhando na direção do local onde se coloca o motor em um barco e lá estava ele. Sentado e com o leme em suas mãos; uma roupa simples, sandálias batidas nos pés, rosto sereno e um sorriso que iluminava mais que o próprio sol refletido nas águas.
                Como eu poderia não tê-lo notado ali? E então a resposta para minha pergunta veio de sua voz forte como uma rocha e ao mesmo tempo suave como uma pétala de rosa:
- Você estava olhando para a direção errada – E abriu um sorriso apaixonante – Não aprendeu nada com Pedro, querida?
                Aquele “querida” saindo de sua boca me fez sentir a pessoa mais amada do mundo!
- Quem está no controle do barco de sua vida agora sou Eu... Você me entregou o leme, não se lembra? – (É claro que sabia que eu tinha passado o governo de minha vida a Ele, mas às vezes os problemas nos fazem esquecer...) – Quanto aos desejos que brotam nas águas do seu coração, não precisa se preocupar, quando for a hora e o momento certo EU os trarei para dentro do barco, você nem se quer precisa mais lutar por eles. Não olhe mais para as águas, não olhe para os sonhos, muito menos para seus medos e dificuldades, olhe somente para o alvo.
                    Então me ajeitei no barco sentando-me agora de frente para ele e de costas para as águas... Para onde Ele me levará? Isso pouco importa! O importante é que agora sigo viagem olhando para o meu alvo: JESUS!