segunda-feira, 28 de março de 2011

Breakaway – Libertar-se


       Você entra em uma livraria certo de que quer comprar um livro romântico, então vai direto para a prateleira que ostenta um rótulo grande e visível “Romance”. Por que olharia para a prateleira de suspense? Não quer se assustar. Ou para a prateleira de contos? Não quer várias estórias curtas, mas apenas uma e que tenha final feliz... Quer simplesmente curtir a fácil e feliz história de um livro romântico. Então se mantém focado no título da prateleira. Mas... e se colocaram algum livro na prateleira errada? E se o melhor romance que você poderia ler foi colocado por acidente na prateleira de drama?
            Era assim que Bia se sentia, como um livro que fora colocado no lugar errado. As pessoas não pareciam compreende-la, mas também nem faziam muitos esforços para isso, simplesmente a julgavam pela capa. Sua aparência exterior não era uma reprodução fiel da pessoa que era por dentro, mas infelizmente Bia não sabia como refletir tudo aquilo que era de fato. Não tinha muita habilidade em expressar sentimentos e, na verdade, alguns ela até preferia manter escondidos simplesmente para se preservar.
            Bia morava com os pais e irmãos na mesma casa e cidade em que nasceu. Conhecia muita gente, mas era de fato conhecida por poucos... As pessoas preferiam se guiar por rótulos que se esforçar por conhecê-la.
            A imagem que as pessoas faziam de Bia não era de todo ruim. Em certos aspectos era até mesmo vantajosa, mas não era real e isso a incomodava demais. Sua “capa” não definia exatamente sua estória interior. Então resolveu que deveria mudar a “capa” de sua vida. Fez plástica, tratamento de pele, mudou a cor e o corte do cabelo, comprou novos  estilos de roupas, passou a sorrir mais e falar mais, porém seu título ainda era o mesmo... As pessoas com quem crescera continuavam a ligar um rótulo ao seu título, preferiam se apegar a imagem antiga que acreditar na nova capa e tentar descobrir quem, de fato, era Bia.
            Bia sentia como que se além dela mesma apenas mais uma ou duas pessoas realmente a conhecia; e as outras, bom, as outras preferiam ler o título e julgar a capa que se esforçar para ler seu real conteúdo.
            Em uma tarde quente e abafada, Bia nem ao menos saiu de casa, sentou-se em sua cama e começou a refletir acerca de toda sua vida. Teve a sensação de que vivera em função de outras pessoas... Como se todo esse tempo tivesse sido co-adjuvante de sua própria estória! Mas ela já estava cansada de tudo isso... E se esse livro fosse retirado da prateleira em que se encontrava? Ou melhor, e se esse livro fosse para uma livraria onde ninguém conhecia sua capa e nem ao menos seu título? E então as pessoas teriam que de fato lê-lo para conhecê-lo.
            Mal dormira, passara parte da noite em claro pensando e repensando. Até tentara ligar para alguém para conversar, mas já era tarde, não queria incomodar... Na manhã seguinte levantou-se cedo, colocou tudo o que conseguiu em duas malas e uma mochila e saiu deixando apenas um bilhete em cima da cama: “Vou reescrever minha história. Assim que me estabelecer volto para buscar o que restou. Amo vocês”
            Entrou no ônibus, sentou-se, respirou fundo e colocou o fone de ouvidos; ligou o MP3 e coincidentemente ouviu:
“I’ll spread my wings and I’ll learn how to fly
I’ll do what it takes till I touch the sky
I’ll make a wish, take a chance, make a change
And breakaway”
            Bia suspirou e sorriu enquanto uma lágrima escorria por seu rosto. Sentiria falta de tudo e de todos, mas na vida às vezes grandes sacrifícios são necessários para se libertar... E naquele momento era exatamente assim que se sentia: LIVRE!

quinta-feira, 24 de março de 2011

AMOR AO ACASO


Em sua sala, sentado em um pufe preto David dedilhava seu violão tentando terminar uma composição na qual trabalhara o dia todo. Era seu dia de folga e ele queria muito terminar esta canção. Mas David andava muito pensativo e isto estava atrapalhando sua concentração.
            David não era levado a sério por seus colegas que o achavam certinho demais. Ele não bebia, não fumava, não falava palavrão e era politicamente correto em tudo o que fazia. E apesar de ter um ótimo emprego e boa aparência também não era levado muito a sério pelas mulheres, afinal ele não era nada do tipo bad boy que a maioria das garotas procuram hoje em dia. Não curtia “ficar”, acreditava que intimidade física vinha depois de intimidade e comprometimento emocional... Até em casamento ele acreditava. Coisas que lhe garantiam apelidos como: careta, old school, nerd. Sem contar seu gosto por musica, filmes e livros diferente da maioria dos homens, por isso até de “maricas” já havia sido chamado.
“Será que um dia encontrarei meu grande amor?
Onde estará? Alguém me diga por favor””
            David não conseguia sair do refrão da música que compunha em seu momento de solidão, mas ele não é o único solitário do mundo... Lá fora milhares encontram-se em busca de um verdadeiro amor. Como Greta, por exemplo, farmacêutica recém-formada, inteligente, relativamente bonita e uma romântica assumida. Em seu carro, ela tentava encontrar um endereço estranho... Estava rodando pela cidade há uns vinte minutos.
            O garoto das entregas havia faltado e o chefe de Greta achou que ela deveria quebrar este galho. Mas ao que parecia nem ela e nem metade da cidade sabia onde ficava aquela casa.
“Quatro anos me matando com toda química, anatomia e tudo o mais para fazer entregas? Parece que não é só na vida amorosa que não tenho sorte!”
            Já fazia alguns meses que Greta saíra de um curto, porém complicado relacionamento, que a deixara absurdamente desapontada com homens de um modo geral!
- Sei sim, moça, o endereço que você procura fica há duas quadras daqui naquela direção.
            Finalmente alguém soubera indicar-lhe o caminho correto para sua última entrega do dia.
            Bateu a porta, mas ninguém respondera; insistiu novamente e ouviu uma musica que parecia vir de dentro da casa, encostou o ouvido na porta para ouvir melhor e então a porta se abriu:
- Pois não?
- Bo-Boa tarde.
            Greta ficou corada e absolutamente sem graça ao ver que aquele homem charmoso e cheiroso a tinha pegado no flagra ouvindo através da porta. Apresentou-se, mostrou a entrega em suas mãos e não sabia mais o que dizer.
- Gripe terrível esta que estou... Até tirei meu dia de folga. Entre, por favor, vou pegar o dinheiro.
            Ela nem sabia por que, mas aceitou o convite. Na verdade ela ainda teria que explicar toda a posologia dos medicamentos e esta era a sua desculpa mental por ter aceitado entrar. Então Greta ouviu seu celular tocar, levou algum tempinho para conseguir achá-lo em sua bolsa, mas finalmente o atendeu. Era seu chefe perguntando se ela havia conseguido encontrar o endereço da última entrega; ela disse que estava tudo sobre controle e já o avisou que dali iria embora para casa.
            E então o gripado mais cheiroso que ela já havia visto retornou a sala, ela explicou tudo certinho acerca dos remédios e quando já estava saindo avistou um violão atrás de um pufe; pensou em perguntar se ele tocava, mas achou que a pergunta poderia soar idiota ou invasiva demais e ela não queria deixar nenhuma das duas impressões.
            Assim que pegou a rua de sua casa, Greta se arrependeu de não ter puxado um papo com o gripado cheiroso e charmoso... ele parecia legal. Mas acabou se convencendo que não faria mais isso; entregaria nas mãos de Deus, e se Ele quisesse dar a ela um companheiro, Ele que desse um jeito. Ao chegar em casa lembrou-se que havia esquecido de dar um recado ao chefe, procurou seu celular na bolsa, mas não encontrou... “Onde será que eu deixei?”
            Enquanto isso, David pensava “garota simpática... e bonita... Amanhã ligo na farmácia avisando que seu celular está aqui... Ou levo pessoalmente a ela... Gosto de almoçar lá perto mesmo, de repente até a convido para almoçar comigo”.
Em sua casa Greta se deitava com uma canção na cabeça que nem ao menos sabia onde ouvira: “Será que um dia encontrarei meu grande amor?”
E David sentou-se novamente na sala, violão no colo, papel e caneta... Enquanto a maioria das pessoas dormiam David terminava de escrever a última frase da mais linda canção que já compusera então escreve o título: “Amor ao Acaso”

quarta-feira, 16 de março de 2011

RELACIONAMENTOS NO MUNDO MODERNO

           
            As facilidades da tecnologia trouxeram as futilidades do dia-a-dia.
            O ser humano hoje quer tudo na hora e com o menor esforço possível, nem que para isso tenho que baixar seus padrões.
            Estão praticamente extintos os desbravadores e aventureiros que lutavam (com espada ou não) por uma ideologia de qualidade!
            E essa realidade, infelizmente, atingiu o modo como os seres humanos se relacionam. Antigamente, por exemplo, para que um homem pudesse se casar (e esse era o objetivo de todo o relacionamento amoroso) ele precisava cortejar durante meses e até anos a mesma mulher, sem maiores intimidades físicas; e então se casavam. E é claro que havia diligência no cuidado de algo pelo qual tinha se esforçado tanto tempo para conseguir. Casamento era para vida toda, portanto zelava-se por ele.
            Hoje as pessoas acham mais fácil encerrar o primeiro e procurar um segundo casamento do que investir seus esforços para que aquele não se acabe.
            E por quê?? Por que estamos vivendo na era do DESCARTÁVEL. Aparelhos eletrônicos são descartáveis (já reparou como os eletrodomésticos de antigamente duravam mais?), roupas são descartáveis (para que não se repita um visual mergulha-se no consumismo) e até mesmo relacionamentos são descartáveis. Porque as pessoas simplesmente fizeram opção de viver debaixo dos ditames da LEI DO MENOR ESFORÇO.
            Imaginem os relacionamentos como os frutos de uma árvore. Ao invés de esperar seu “fruto” ideal amadurecer, ou ter que se esforçar escalando a árvore para alcançá-lo, as pessoas acabam se conformando com os relacionamentos “verdes” (porém disponíveis) ou com os podres e já no chão (onde qualquer um alcança). E aquelas pessoas que têm um padrão de qualidade mais elevado, que sabem o real valor que possuem acabam esperando um desbravador que ouse escalar a árvore para alcançá-la(o).
            Para estas pessoas (os bons frutos do alto da árvore) aqui vai meu recado: sei que as vezes a sociedade tenta nos convencer que se “apodrecermos” e cairmos no chão seremos vistos mais facilmente e também alcançados por todos, mas não se iluda com este discurso, afinal é no chão que corremos o risco de sermos pisoteados e fatalmente esmagados. E, acredite, a morte emocional pode ser até pior que a morte física!

segunda-feira, 14 de março de 2011

Há esperança

        PARTE II - O presente

         Sua situação agora era ainda pior que a anterior, nem tinha mais os sapatos e o casaco surrado para vestir e sabia que roupa corresponde a mais de 70% de uma boa primeira impressão... O que vestiria no jantar?
            Adormeceu pensando nisso e acordou com o barulho do jornal sendo arremessado em sua porta. Ao sair para recolhê-lo viu uma caixa no chão, pegou o embrulho, recolheu o jornal e entrou. Ao colocar tudo na mesa viu na primeira página do jornal um rosto familiar logo abaixo da manchete: “Diplomata Francês é assaltado e espancado”, parecia o homem que ajudara na noite passada. Não quis fazer mais nada antes de ler a reportagem na íntegra, que dizia que mesmo após ter sofrido tal violência o diplomata ainda assinara documentos de negociações que beneficiariam em muito o país. Era realmente o senhor que encontrara perto de sua casa, na foto do jornal ele ainda vestia o casaco de Carlos.
            Ainda perplexo com a notícia olhou para o estranho embrulho e viu um envelope pregado na tampa. Abriu e leu:
“Mais de uma hora eu fiquei caído naquele beco e você, sem saber quem eu era me estendeu a mão. Não só me emprestou seu celular, como me deu o casaco que vestia. Tamanha integridade só pode existir em lugares em que ainda existam princípios e valores enraizados. Por favor, aceite meu presente de agradecimento. Espero que lhe seja útil. Muito obrigada”
            A assinatura ele não entendeu muito bem, mas o bilhete era claro e objetivo. Havia recebido o embrulho do senhor (diplomata francês) que ajudara. Ainda receoso e sem acreditar no que via abriu a caixa a primeira coisa que viu foi um par de sapatos marrom, parecia de couro legítimo e tinha uma etiqueta de uma marca que Carlos nem ao menos sabia pronunciar. Provou, serviu como uma luva, ou melhor, como um sapato mesmo! Retirou uma camada de papel de seda branco de dentro da caixa e encontrou.... será? Não pode ser... : Um sobretudo de couro marrom escuro digno de filme de detetive. Jamais tocara um artigo tão bem desenhado e costurado como aquele casaco, provou e também lhe serviu perfeitamente.
            Carlos já estava chorando quando retirou mais uma camada de papel de seda e encontrou outro envelope no fundo da caixa, na parte de fora um bilhete: “este é pelo crédito que gastei de seu celular”. Abriu o envelope e a quantia de dinheiro que tinha lá dentro lhe permitia não somente carregar seu celular novamente, mas também comprar um novo!
            Carlos sentou-se e nem café conseguiu tomar aquela manhã. No decorrer dos dias seguintes contou o ocorrido para todos os amigos e conhecidos e sempre terminava a história com a frase “Deus existe, gente! E tem anjos na França!”... Do outro lado do oceano outra história era contada, mas desta vez era encerrada com “Deus de fato existe! E há anjos no Brasil!”  
As vezes chamamos de anjos aqueles que são usados por Deus para ajudar ao próximo... Sim, eles ainda existem e estão em todo lugar... Libere o anjo que há dentro de você!

sexta-feira, 4 de março de 2011

Há esperança

PARTE I - Noite Fria


           Carlos acelerara seus passos, queria sair o quanto antes daquela noite fria e chegar ao aconchego de seu lar.
            Calças e sapatos já surrados de tanto o acompanharem em sua busca por um emprego que já durava mais de um mês. Seu casaco marrom já desbotado era a melhor blusa que tinha.
            Por uma viela que usava de atalho, caminhava apressadamente sem olhar para nada, seus pensamentos se perdiam no convite que recebera.
            Um amigo seu trabalhava na empresa que Carlos sempre quisera trabalhar. Naquela tarde, seu amigo ligara convidando-o para um jantar da empresa. Lá estariam chefes, supervisores, funcionários e convidados. Seu amigo fazia questão de apresentar Carlos para o chefe. Seria inegavelmente a melhor oportunidade de sua vida!
            Carlos aceitara o convite (óbvio), mas algo martelava em sua mente: o jantar seria no sábado a noite em uma fazenda na cidade vizinha, onde o frio era mais cortante ainda. O que Carlos vestiria? Os sapatos e o casaco marrom que mais pareciam ter sido herdados de seu avô? E a calça.... Bom a calça ele tinha uma nova que guardava para ocasiões especiais e esta com certeza seria uma.
            Estava tão absorto em seu devaneio que nem percebeu o que prendera sua perna esquerda. Ao olhar para baixo (para sua surpresa) viu que uma mão lhe segurava o calcanhar. Um homem já de certa idade, descalço e sem camisa, levemente ferido estava deitado no chão. Então o senhor lhe implorou que emprestasse o celular, alegando que havia sido assaltado e que precisava fazer uma ligação.
            “Com certeza está bêbado” Carlos pensou, pois mal conseguia entender o que o homem falava. Não acreditou muito na história do assalto e espancamento, mas teve uma imensa vontade de emprestar-lhe o celular. Titubeou, pois seu saldo já era baixo e não teria condições de reabastecê-lo tão cedo. Olhou para os olhos daquele senhor pronto para lhe dizer não e continuar sua caminhada para a casa (que já estava tão próxima), mas ao ver uma lágrima escorrer por aquele rosto ferido não conteve o impulso de seu coração. Pegou aquele pobre homem pelos braços, o colocou de pé e entregou o celular em sua mão. Com muito esforço para conter a tremedeira (de frio e dor) o ele discou um número longo e pôs o telefone ao ouvido.
            Carlos não conseguiu entender a conversa direito, por alguns instante até pensou tratar-se de uma língua estrangeira, mas logo imaginou que poderia ser embriaguez mesmo. O senhor foi breve ao telefone e agradeceu muito a Carlos, perguntou seu sobrenome e sem pensar muito nas conseqüências Carlos respondeu, então assegurou que Carlos poderia ir embora pois já estavam a caminho para buscá-lo. “Eu irei recompensá-lo” afirmou com veemência o senhor; Carlos sorriu (completamente descrente) e já estava saindo quando mais uma vez foi tomado por um impulso de seu coração. Deixaria um senhor de idade machucado parcialmente despido com frio numa noite de inverno? Deu meia volta tirou seu casaco e entregou (com um aperto no coração) ao homem, que aceitou sem muito hesitar. Tirou também os sapatos e os entregou, o senhor não quis aceitar, mas Carlos insistiu e disse que morava ali perto não teria problema ir descalço. Então ele aceitou e disse: “Ainda hoje pensei que esta nação merecia ser ignorada pela violência que a move, mas agora penso que todo lugar que houver pessoas como você merece crédito e apoio”. Carlos sorriu indiferente novamente e foi para casa sem nem sequer refletir muito acerca do que ouvira.


Leia a parte II: http://aprendizdetrovador.blogspot.com/2011/03/ha-esperanca_14.html