quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Desencontro

  
     Ele esperara tanto por aquele momento que nem acreditava que havia chegado!

     Passara o dia todo pensando somente nesta oportunidade, afinal só para criar coragem de convidá-la para este encontro ele levou meses; e seu amor oculto por ela existia há anos!
     Assim que saiu do trabalho comprou flores frescas, foi para casa e tomou um longo banho se imaginando ao lado dela em uma mesa de restaurante.Escolheu a melhor camisa, uma boa calça e um sapado lustrado.
     A cada minuto que passava seu coração martelava como um sino de igreja aumentando suas badaladas em noite natalina. Suas mãos trêmulas mal conseguiam abotoar os botões da camisa. Não estava necessariamente chique, mas não queria fazer feio logo no primeiro encontro com o grande amor de sua vida. Há pouco tempo ela havia saído de um relacionamento conturbado cheio de mentiras e engano; ele queria dar a ela o melhor que podia.
     Meia hora antes do horário combinado pegou as chaves do carro e resolveu partir... “caso chegue muito cedo, fico esperando no carro antes de chamar” pensou, pois sabia que ela zelava por pontualidade.
     Sua casa não distava muito da dela, uns doze minutos apenas, portanto dirigia em velocidade regular. Dentro do carro, em um volume agradável aos ouvidos, ouvia-se uma doce melodia (“...lucky I’m in love with my best friend...”) que, mesmo sem saber o que dizia, ele cantarolava alegremente.
     A apenas uns cinco minutos de sua casa ele ouviu um estalo forte em um dos pneus. Diminuiu a velocidade gradativamente até parar, respirou fundo já sabendo que tipo de problema encontraria lá fora. Desceu do carro e viu o que menos gostaria de ver naquele momento: o pneu da frente havia furado.
     Às pressas correu para o porta-malas, pegou sua caixa de ferramentas e se dirigiu ao pneu furado. Ao tentar tirá-lo encostou a manga de sua camisa na borracha suja criando uma mancha desagradável, mas nem se importou muito, continuou com sua corrida contra o tempo. Assim que terminou entrou no carro e já foi ligando o motor, mas viu a caixa de ferramentas para fora; desceu do carro deixando a porta bater logo em seguida, pegou a caixa e caminhou rapidamente em direção ao porta-malas, mas estava trancado. Voltou à porta da frente e assim que forçou a maçaneta se arrependeu amargamente de não ter consertado a maldita trava elétrica.
     Parecia piada do destino, lá estava ele, já há dez minutos atrasado para o momento mais esperado de sua vida e trancado para fora de seu próprio carro. Bateu as mãos nos bolsos a fim de pegar o celular para avisá-la, mas sentiu como se fosse um soco na boca do estômago ao ver o pequeno aparelho em cima do painel do carro. Ela jamais acreditaria em tudo isso.
     Quinze minutos se passaram até que outro carro passasse por lá, mais vinte e cinco para que o chaveiro viesse e fizesse seu serviço. Muito depois do combinado, sujo e extremamente abalado lá estava ele parado em frente a casa dela. Casa fechada, luzes apagadas, ninguém respondeu ao interfone. Foi então que seu mundo desabou de vez, socou o muro e teve vontade de chorar, não sabia se de dor na mão ou no coração. Resolveu nem se quer ligar... Perdera sua grande chance.
     Custou a dormir e ainda teve pesadelos, acordou um caco e foi trabalhar contra a própria vontade. Alguns minutos de trabalho mal feito e seu celular tocou, era ela. Seu coração acelerou como um corredor em segundo lugar disparando para chegar em primeiro.
     Ela se desculpou por não ter ligado avisando, mas tivera que sair às pressas com seu pai para levar sua mãe ao hospital, por isso não estava em sua casa na hora marcada. Mal sabia ela que nem ele estava... Mas nada mais importava, afinal ele já se preparava mentalmente para o encontro que acabara de marcar... “vai ser uma noite especial!” sussurrou ao desligar o celular. E passou o resto do dia como se a noite anterior nem se quer tivesse existido.

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