quinta-feira, 24 de março de 2011

AMOR AO ACASO


Em sua sala, sentado em um pufe preto David dedilhava seu violão tentando terminar uma composição na qual trabalhara o dia todo. Era seu dia de folga e ele queria muito terminar esta canção. Mas David andava muito pensativo e isto estava atrapalhando sua concentração.
            David não era levado a sério por seus colegas que o achavam certinho demais. Ele não bebia, não fumava, não falava palavrão e era politicamente correto em tudo o que fazia. E apesar de ter um ótimo emprego e boa aparência também não era levado muito a sério pelas mulheres, afinal ele não era nada do tipo bad boy que a maioria das garotas procuram hoje em dia. Não curtia “ficar”, acreditava que intimidade física vinha depois de intimidade e comprometimento emocional... Até em casamento ele acreditava. Coisas que lhe garantiam apelidos como: careta, old school, nerd. Sem contar seu gosto por musica, filmes e livros diferente da maioria dos homens, por isso até de “maricas” já havia sido chamado.
“Será que um dia encontrarei meu grande amor?
Onde estará? Alguém me diga por favor””
            David não conseguia sair do refrão da música que compunha em seu momento de solidão, mas ele não é o único solitário do mundo... Lá fora milhares encontram-se em busca de um verdadeiro amor. Como Greta, por exemplo, farmacêutica recém-formada, inteligente, relativamente bonita e uma romântica assumida. Em seu carro, ela tentava encontrar um endereço estranho... Estava rodando pela cidade há uns vinte minutos.
            O garoto das entregas havia faltado e o chefe de Greta achou que ela deveria quebrar este galho. Mas ao que parecia nem ela e nem metade da cidade sabia onde ficava aquela casa.
“Quatro anos me matando com toda química, anatomia e tudo o mais para fazer entregas? Parece que não é só na vida amorosa que não tenho sorte!”
            Já fazia alguns meses que Greta saíra de um curto, porém complicado relacionamento, que a deixara absurdamente desapontada com homens de um modo geral!
- Sei sim, moça, o endereço que você procura fica há duas quadras daqui naquela direção.
            Finalmente alguém soubera indicar-lhe o caminho correto para sua última entrega do dia.
            Bateu a porta, mas ninguém respondera; insistiu novamente e ouviu uma musica que parecia vir de dentro da casa, encostou o ouvido na porta para ouvir melhor e então a porta se abriu:
- Pois não?
- Bo-Boa tarde.
            Greta ficou corada e absolutamente sem graça ao ver que aquele homem charmoso e cheiroso a tinha pegado no flagra ouvindo através da porta. Apresentou-se, mostrou a entrega em suas mãos e não sabia mais o que dizer.
- Gripe terrível esta que estou... Até tirei meu dia de folga. Entre, por favor, vou pegar o dinheiro.
            Ela nem sabia por que, mas aceitou o convite. Na verdade ela ainda teria que explicar toda a posologia dos medicamentos e esta era a sua desculpa mental por ter aceitado entrar. Então Greta ouviu seu celular tocar, levou algum tempinho para conseguir achá-lo em sua bolsa, mas finalmente o atendeu. Era seu chefe perguntando se ela havia conseguido encontrar o endereço da última entrega; ela disse que estava tudo sobre controle e já o avisou que dali iria embora para casa.
            E então o gripado mais cheiroso que ela já havia visto retornou a sala, ela explicou tudo certinho acerca dos remédios e quando já estava saindo avistou um violão atrás de um pufe; pensou em perguntar se ele tocava, mas achou que a pergunta poderia soar idiota ou invasiva demais e ela não queria deixar nenhuma das duas impressões.
            Assim que pegou a rua de sua casa, Greta se arrependeu de não ter puxado um papo com o gripado cheiroso e charmoso... ele parecia legal. Mas acabou se convencendo que não faria mais isso; entregaria nas mãos de Deus, e se Ele quisesse dar a ela um companheiro, Ele que desse um jeito. Ao chegar em casa lembrou-se que havia esquecido de dar um recado ao chefe, procurou seu celular na bolsa, mas não encontrou... “Onde será que eu deixei?”
            Enquanto isso, David pensava “garota simpática... e bonita... Amanhã ligo na farmácia avisando que seu celular está aqui... Ou levo pessoalmente a ela... Gosto de almoçar lá perto mesmo, de repente até a convido para almoçar comigo”.
Em sua casa Greta se deitava com uma canção na cabeça que nem ao menos sabia onde ouvira: “Será que um dia encontrarei meu grande amor?”
E David sentou-se novamente na sala, violão no colo, papel e caneta... Enquanto a maioria das pessoas dormiam David terminava de escrever a última frase da mais linda canção que já compusera então escreve o título: “Amor ao Acaso”

quarta-feira, 16 de março de 2011

RELACIONAMENTOS NO MUNDO MODERNO

           
            As facilidades da tecnologia trouxeram as futilidades do dia-a-dia.
            O ser humano hoje quer tudo na hora e com o menor esforço possível, nem que para isso tenho que baixar seus padrões.
            Estão praticamente extintos os desbravadores e aventureiros que lutavam (com espada ou não) por uma ideologia de qualidade!
            E essa realidade, infelizmente, atingiu o modo como os seres humanos se relacionam. Antigamente, por exemplo, para que um homem pudesse se casar (e esse era o objetivo de todo o relacionamento amoroso) ele precisava cortejar durante meses e até anos a mesma mulher, sem maiores intimidades físicas; e então se casavam. E é claro que havia diligência no cuidado de algo pelo qual tinha se esforçado tanto tempo para conseguir. Casamento era para vida toda, portanto zelava-se por ele.
            Hoje as pessoas acham mais fácil encerrar o primeiro e procurar um segundo casamento do que investir seus esforços para que aquele não se acabe.
            E por quê?? Por que estamos vivendo na era do DESCARTÁVEL. Aparelhos eletrônicos são descartáveis (já reparou como os eletrodomésticos de antigamente duravam mais?), roupas são descartáveis (para que não se repita um visual mergulha-se no consumismo) e até mesmo relacionamentos são descartáveis. Porque as pessoas simplesmente fizeram opção de viver debaixo dos ditames da LEI DO MENOR ESFORÇO.
            Imaginem os relacionamentos como os frutos de uma árvore. Ao invés de esperar seu “fruto” ideal amadurecer, ou ter que se esforçar escalando a árvore para alcançá-lo, as pessoas acabam se conformando com os relacionamentos “verdes” (porém disponíveis) ou com os podres e já no chão (onde qualquer um alcança). E aquelas pessoas que têm um padrão de qualidade mais elevado, que sabem o real valor que possuem acabam esperando um desbravador que ouse escalar a árvore para alcançá-la(o).
            Para estas pessoas (os bons frutos do alto da árvore) aqui vai meu recado: sei que as vezes a sociedade tenta nos convencer que se “apodrecermos” e cairmos no chão seremos vistos mais facilmente e também alcançados por todos, mas não se iluda com este discurso, afinal é no chão que corremos o risco de sermos pisoteados e fatalmente esmagados. E, acredite, a morte emocional pode ser até pior que a morte física!

segunda-feira, 14 de março de 2011

Há esperança

        PARTE II - O presente

         Sua situação agora era ainda pior que a anterior, nem tinha mais os sapatos e o casaco surrado para vestir e sabia que roupa corresponde a mais de 70% de uma boa primeira impressão... O que vestiria no jantar?
            Adormeceu pensando nisso e acordou com o barulho do jornal sendo arremessado em sua porta. Ao sair para recolhê-lo viu uma caixa no chão, pegou o embrulho, recolheu o jornal e entrou. Ao colocar tudo na mesa viu na primeira página do jornal um rosto familiar logo abaixo da manchete: “Diplomata Francês é assaltado e espancado”, parecia o homem que ajudara na noite passada. Não quis fazer mais nada antes de ler a reportagem na íntegra, que dizia que mesmo após ter sofrido tal violência o diplomata ainda assinara documentos de negociações que beneficiariam em muito o país. Era realmente o senhor que encontrara perto de sua casa, na foto do jornal ele ainda vestia o casaco de Carlos.
            Ainda perplexo com a notícia olhou para o estranho embrulho e viu um envelope pregado na tampa. Abriu e leu:
“Mais de uma hora eu fiquei caído naquele beco e você, sem saber quem eu era me estendeu a mão. Não só me emprestou seu celular, como me deu o casaco que vestia. Tamanha integridade só pode existir em lugares em que ainda existam princípios e valores enraizados. Por favor, aceite meu presente de agradecimento. Espero que lhe seja útil. Muito obrigada”
            A assinatura ele não entendeu muito bem, mas o bilhete era claro e objetivo. Havia recebido o embrulho do senhor (diplomata francês) que ajudara. Ainda receoso e sem acreditar no que via abriu a caixa a primeira coisa que viu foi um par de sapatos marrom, parecia de couro legítimo e tinha uma etiqueta de uma marca que Carlos nem ao menos sabia pronunciar. Provou, serviu como uma luva, ou melhor, como um sapato mesmo! Retirou uma camada de papel de seda branco de dentro da caixa e encontrou.... será? Não pode ser... : Um sobretudo de couro marrom escuro digno de filme de detetive. Jamais tocara um artigo tão bem desenhado e costurado como aquele casaco, provou e também lhe serviu perfeitamente.
            Carlos já estava chorando quando retirou mais uma camada de papel de seda e encontrou outro envelope no fundo da caixa, na parte de fora um bilhete: “este é pelo crédito que gastei de seu celular”. Abriu o envelope e a quantia de dinheiro que tinha lá dentro lhe permitia não somente carregar seu celular novamente, mas também comprar um novo!
            Carlos sentou-se e nem café conseguiu tomar aquela manhã. No decorrer dos dias seguintes contou o ocorrido para todos os amigos e conhecidos e sempre terminava a história com a frase “Deus existe, gente! E tem anjos na França!”... Do outro lado do oceano outra história era contada, mas desta vez era encerrada com “Deus de fato existe! E há anjos no Brasil!”  
As vezes chamamos de anjos aqueles que são usados por Deus para ajudar ao próximo... Sim, eles ainda existem e estão em todo lugar... Libere o anjo que há dentro de você!

sexta-feira, 4 de março de 2011

Há esperança

PARTE I - Noite Fria


           Carlos acelerara seus passos, queria sair o quanto antes daquela noite fria e chegar ao aconchego de seu lar.
            Calças e sapatos já surrados de tanto o acompanharem em sua busca por um emprego que já durava mais de um mês. Seu casaco marrom já desbotado era a melhor blusa que tinha.
            Por uma viela que usava de atalho, caminhava apressadamente sem olhar para nada, seus pensamentos se perdiam no convite que recebera.
            Um amigo seu trabalhava na empresa que Carlos sempre quisera trabalhar. Naquela tarde, seu amigo ligara convidando-o para um jantar da empresa. Lá estariam chefes, supervisores, funcionários e convidados. Seu amigo fazia questão de apresentar Carlos para o chefe. Seria inegavelmente a melhor oportunidade de sua vida!
            Carlos aceitara o convite (óbvio), mas algo martelava em sua mente: o jantar seria no sábado a noite em uma fazenda na cidade vizinha, onde o frio era mais cortante ainda. O que Carlos vestiria? Os sapatos e o casaco marrom que mais pareciam ter sido herdados de seu avô? E a calça.... Bom a calça ele tinha uma nova que guardava para ocasiões especiais e esta com certeza seria uma.
            Estava tão absorto em seu devaneio que nem percebeu o que prendera sua perna esquerda. Ao olhar para baixo (para sua surpresa) viu que uma mão lhe segurava o calcanhar. Um homem já de certa idade, descalço e sem camisa, levemente ferido estava deitado no chão. Então o senhor lhe implorou que emprestasse o celular, alegando que havia sido assaltado e que precisava fazer uma ligação.
            “Com certeza está bêbado” Carlos pensou, pois mal conseguia entender o que o homem falava. Não acreditou muito na história do assalto e espancamento, mas teve uma imensa vontade de emprestar-lhe o celular. Titubeou, pois seu saldo já era baixo e não teria condições de reabastecê-lo tão cedo. Olhou para os olhos daquele senhor pronto para lhe dizer não e continuar sua caminhada para a casa (que já estava tão próxima), mas ao ver uma lágrima escorrer por aquele rosto ferido não conteve o impulso de seu coração. Pegou aquele pobre homem pelos braços, o colocou de pé e entregou o celular em sua mão. Com muito esforço para conter a tremedeira (de frio e dor) o ele discou um número longo e pôs o telefone ao ouvido.
            Carlos não conseguiu entender a conversa direito, por alguns instante até pensou tratar-se de uma língua estrangeira, mas logo imaginou que poderia ser embriaguez mesmo. O senhor foi breve ao telefone e agradeceu muito a Carlos, perguntou seu sobrenome e sem pensar muito nas conseqüências Carlos respondeu, então assegurou que Carlos poderia ir embora pois já estavam a caminho para buscá-lo. “Eu irei recompensá-lo” afirmou com veemência o senhor; Carlos sorriu (completamente descrente) e já estava saindo quando mais uma vez foi tomado por um impulso de seu coração. Deixaria um senhor de idade machucado parcialmente despido com frio numa noite de inverno? Deu meia volta tirou seu casaco e entregou (com um aperto no coração) ao homem, que aceitou sem muito hesitar. Tirou também os sapatos e os entregou, o senhor não quis aceitar, mas Carlos insistiu e disse que morava ali perto não teria problema ir descalço. Então ele aceitou e disse: “Ainda hoje pensei que esta nação merecia ser ignorada pela violência que a move, mas agora penso que todo lugar que houver pessoas como você merece crédito e apoio”. Carlos sorriu indiferente novamente e foi para casa sem nem sequer refletir muito acerca do que ouvira.


Leia a parte II: http://aprendizdetrovador.blogspot.com/2011/03/ha-esperanca_14.html

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

ENSAIO SOBRE LÁGRIMAS



         Lágrimas são como uma tourada alvoroçada, se você tentar segurá-las o estrago pode ser pior.
            As razões de elas se formarem podem ser diferentes (dor, regozijo, tristeza, nervosismo, etc.). Mas o objetivo delas é um só: transformar em matéria concreta aquilo que só existe no abstrato.
            Há quem diga que o canal lacrimal tem ligação direta com o coração. E que a quantidade de lágrimas liberadas é proporcional a intensidade do sentimento que as impulsionam. Até porque elas sempre estão ligadas a sentimentos... Ainda que falsas e fingidas, há um sentimento por trás delas.
            Uma única lágrima é algo tão pequeno e transparente (quase imperceptível), mas é capaz de comover quem a libera e quem a vê sendo liberada.
            Sua composição? Praticamente um soro caseiro... Uma água levemente salgada, mas com a estranha propriedade de causar alívio ao ser liberada (mesmo que em meio a turbulências).
            Todos os seres humanos, por mais frio, insensível, bruto ou indiferente que seja já derramaram lágrimas algumas vezes na vida.
            Portanto, embora as lágrimas sejam freqüentemente associadas a tristezas e amarguras, elas na verdade são sinais de vida. Mortos não choram. Nem os fisicamente mortos, tão pouco os emocionalmente mortos.
            Diante disso, na próxima vez que uma lágrima escorrer em seu rosto não tenha vergonha, nem se reprima... Deixe que ela escorra por sua face e faça com que ela morra em um sorriso... Um sorriso por lembrar-se que aquela gota umedecendo sua pele é um sinal de que você está vivo, por fora e por dentro!

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Posso?

       
       A TV estava ligada, mas Karen não estava assistindo nada. Estava simplesmente sentada a frente da TV estática com o controle remoto na mão direita. A dor havia se agravado. Ela estava ali há horas, simplesmente refletindo sobre o rumo que sua vida havia tomado... Seu sonho de morar sozinha e a sensação de vazio que isso agora lhe trazia. As amizades que não fizera na nova cidade, o amor que perdera por ser egocêntrica demais e o fundo do poço onde se encontrava agora que até mesmo sua saúde estava perdida.
            De repente teve um surto. Desligou a TV, largou o controle remoto e foi até seu quarto. Tirou uma mala vermelha debaixo da cama e começou a colocar algumas peças de roupas. Será que ela havia pirado de vez de solidão? Estaria fugindo da casa onde mora sozinha?
            Minutos mais tarde bate a porta de uma casa do outro lado da cidade.
- O que você está fazendo aqui? Achei que a gente tinha se separado... e você mesma disse que não queria mais me ver...
- Posso dormir aqui hoje? – Perguntou Karen com uma expressão tão desiludida que era capaz de comover o mais duro coração...
- Você pensa que é assim? Me destrata durante anos, larga de mim e agora é só bater em minha porta que eu te acolherei de braços abertos? Não vai ser tão fácil assim...
- Não estou pedindo que me namore de novo ou que me aceite de volta em sua vida. Nem se quer espero compreensão amistosa de sua parte... Estou simplesmente pedindo ao ser humano que há em você se pode me dar um teto para dormir esta noite!
- Foi despejada??
- Não... não quero ficar sozinha mais esta noite... só quero dormir em um lugar onde eu saiba que tem mais uma pessoa... É só por hoje, eu prometo... estou com muita dor...
Foi aí  que ele não conseguiu mais oferecer resistência, abriu a porta e deixou-a entrar. Ela foi logo se ajeitando no sofá.
- Não, você dorme em minha cama que eu durmo no sofá.
- Não precisa ter pena de mim... estou doente, mas continuo sendo a mesma idiota que não soube te amar.
- E eu continuo sendo o mesmo cara gentil que um dia te amou. Vamos lá que arrumarei minha cama para você.
Não encontrou palavras para rebater aquele argumento... Teve até vontade de chorar... Mas era durona... Respirou fundo e se dirigiu para o quarto que ela já sabia decor onde ficava. Ele arrumou a cama e avisou que iria tomar um banho. Ela se deitou até que ele desocupasse o banheiro a fim de se aprontar pra dormir... Mas acabou pegando no sono, estava realmente cansada.
Ao sair do banho ele parou para admirar a cena. Aquele anjo repousando em sua cama nem parecia a mulher que partira seu coração em mil pedaços. Tentou chamá-la suavemente para que ela ao menos colocasse uma roupa mais confortável, mas só ouviu um gemido de dor. Achou melhor deixá-la assim mesmo. Virou-se para sair do quarto, mas a consciência pesou... ela não queria ficar sozinha...
Depois de relutar consigo mesmo voltou e deitou-se ao lado de Karen. Ela gemeu mais uma vez agora se virando de costas pra ele e apertando um travesseiro contra o abdômen. A cena cortou-lhe o coração... o mesmo que já havia sido partido. Então se aproximou, abraçou-a e ela se ajeitou em seus braços como uma criança manhosa. Karen chegou a quase despertar, mas não queria que ele saísse dali, então simplesmente aproveitou-se do aconchego. Sabia que no dia seguinte teria que fazer de novo sua mala vermelha (como prometera), mas o que importava mesmo era aquele momento... e que não estava sozinha mais. Suspirou feliz e adormeceu... nos braços do homem que ainda amava e não sabia como dizer.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

QUANDO VOCÊ VOLTAR...



Já era tarde da noite, mas ela não se importava... Lucy precisava de uma ducha fria. Ela já não sabia se sua cabeça estava quente daquele jeito por causa do calor que fazia ou por causa de tudo o que acabara de acontecer.
A discussão tinha sido longa, ela o acusava e ele a feria com palavras. Ambos tinham razão em seus argumentos, mas ao mesmo tempo ambos estavam errados em lidar daquela forma com suas diferenças.
Desta vez, porém, ao invés de esbravejar até sua voz não agüentar mais, Lucy simplesmente o ajudou a fazer as malas. Ele ficara surpreso com sua atitude, mas é que Lucy não agüentava mais, simplesmente não tinha mais forças para brigar.
Lucy reviu todo o ocorrido em sua mente enquanto lavava sua cabeça com água fria. Para sua própria surpresa não chorou. Saiu do banho, colocou seu pijama mais fresco e foi para o quarto. Deitou-se na cama agora tão espaçosa com a falta de Renato. E de súbito teve uma vontade imensa de ouvir uma musica suave para dormir... Por conta da saudade que já apertava seu peito escolheu a coletânea de Renato Russo que tinha em seu MP3. Apertou “shuffle” e deixou que o próprio aparelho escolhesse as músicas que ouviria.
Não acreditou em seus ouvidos... Parecia que seu MP3 estava conectado ao seu coração e ao ouvir a primeira música derramou o mar de lágrimas que havia segurado até então... E enquanto molhava seu travesseiro com lágrimas, como uma trilha sonora de uma cena triste de um filme de drama, ela ouvia:

“Vai, se você precisa ir
Não quero mais brigar esta noite
Nossas acusações infantis
E palavras mordazes que machucam tanto
Não vão levar a nada, como sempre
Vai, clareia um pouco a cabeça
Já que você não quer conversar.
Já brigamos tanto
         Mas não vale a pena
        Vou ficar aqui, com um bom livro ou com a TV
Sei que existe alguma coisa incomodando você
Meu amor, cuidado na estrada
E quando você voltar
Tranque o portão
Feche as janelas
Apague a luz
e saiba que te amo...”

Ao toque da última nota do piano na música derramou sua última lágrima e desligou o MP3... Não havia sido uma boa idéia ouvir música. Colocou o aparelho sobre o criado mudo virou-se para o lado vazio da cama e adormeceu acariciando o travasseiro dele.
Mais tarde ouviu o portão se abrir e um carro estacionando na garagem. Não conteve o sorriso e simplesmente sussurrou: “Tranque o portão, feche as janelas, apague a luz e saiba que te amo...”